Ad Eternum Raimundus
Morreu Fernando Raimundo!
Morreu o maior teórico de Tradição Académica desta Academia do Porto, e quiçá deste País!
Mas, pior de tudo isto, morreu o meu amigo Raimundo!
Sabes amigo, deixa-me tratar-te assim, ainda que esteja certo de que
não mereço a honra de assim ser tratado! Um amigo não falha e eu contigo
falhei! Tinha prometido a mim próprio que tudo faria para que nunca
mais esta academia tivesse de fazer homenagens póstumas a gente que
tanto fez por ela, tive tempo que chegasse desde que o “nosso Chico”
partiu, e falhei! Não fui capaz de convencer quem ocupa os cargos
actualmente de que estes novos académicos têm de vos ouvir ao vivo a
dizer e a narrar as vossas experiências, a terem o privilégio que eu
tive de convosco conviver. Sabes amigo, cheguei à conclusão, e por isso
falhei, de que existem muitos a quem a postura de humildade, que tu e
mais alguns têm, incomoda. O Contraste é gritante e os caloiros são
novos mas pensam!
Sabes amigo, não
sei se serei capaz de voltar aos nossos jantares, não sei se a dor de
não estares lá é superável! Já nos custou tanto a falta do “Chico”! E
quando alguém me pedir para ouvir falar de academismo, ainda que os
outros vão, vais faltar sempre tu! Nunca conheci ninguém como tu! Nunca
conheci ninguém que soubesse tanto e tão profundamente de vida académica
como tu! Não, amigo, não estou a exagerar, como na tua simples
humildade deves estar a pensar!
Sabes, a tua humildade sempre me marcou! Para quem como eu, tem vivido
nos últimos anos esta academia, tem sido de uma tristeza ouvir alguns
“pseudo académicos” gabarem-se de coisas que nunca fizeram e a ti, que
tantas coisas fizeste, nunca te ouvi gabar. Quando se pensou em fazer um
congresso, foi um prazer ouvir-te em 15 minutos a traçar as linhas
programáticas e temáticas do mesmo. Fica aqui escrito, porque em
primeiro lugar nunca te agradeci e depois porque faço questão que pelo
menos disto, ninguém se possa abusivamente gabar. Quando procuramos uma
fotografia do Soromenho para o Congresso, lá estavas tu, trajado com a
tua inconfundível bengala, que no teu tempo era pertença de um veterano e
agora é símbolo de algo que não entendias como havia tantos. E já agora
queria dizer-te que para mim o teu maior feito académico, foi teres
criado uma saudação académica para engenharia e ela hoje ser usada por
quase toda uma academia!
“Avé Raimundus, Praxisturi te Salutam”!
Sabes que partiste sem nunca te ouvir dizer “Fui eu que inventei”! É a
diferença! É aquilo que Deus quis levar mais depressa do que devia!
Sabes amigo, a memória das pessoas é curta! Agora daqui a algum tempo
vais ser homenageado por um Magnum qualquer que exista há altura, mas
agora que partiste, só o teu Conselho de Veteranos decretou luto
académico, esqueceram-se os outros da perda que tu és, e de que há muito
tinhas deixado de ser só de Engenharia. Não sou de engenharia como
todos sabem, mas eu também estou de luto académico e penso que toda esta
academia deveria estar. Estou de luto, porque comungo da dor e da
saudade que a Marta, o Juliano e o Afonso sentem, bem como tantos
amigos, Mas também estou de luto, porque um dos maiores académicos que
conheci, acabou de partir.
Que o
Magnum Consillium Veteranorum, assim se dizia no tempo do Raimundo, se
lembre daquilo que até hoje se esqueceu, “O Veterano Raimundo é desta
Academia”, e como tal as honras que merece são de toda a Academia, e não
apenas de Engenharia.
E vós,
caloiros desta academia sempre que fizerem a saudação académica,
lembrem-se que foi um grande académico chamado Fernando Raimundo que o
inventou.
A ti, meu amigo, quero
que saibas que agora não sinto vontade de continuar a pugnar para que os
nossos amigos que ainda estão cá comigo sejam homenageados, é que uma
academia que te deixa partir e não te homenageia devidamente, não pode
ser a minha academia.
Talvez seja a
hora das trevas! A hora de haver alguns que pensam ser importantes, sem
terem importância nenhuma! Talvez o luto desta academia não se possa
ficar a dever à tua partida, mas sim às verdades e conhecimento
despretensioso que contigo levaste!
Talvez um dia, quando a tua capa académica voltar a voar por esta academia, o tempo da Luz volte!
Assim quero pelo menos continuar a acreditar!
Ad Eternum Raimundo, Ad Eternum Amigo!
Paz à tua Alma, descansa em Paz
Fernando Borges
(Faculdade de Letras Universidade Porto)
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