sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Ad Eternum Raimundus

15-12-2003 15:40

Ad Eternum Raimundus



Morreu Fernando Raimundo!
Morreu o maior teórico de Tradição Académica desta Academia do Porto, e quiçá deste País!
Mas, pior de tudo isto, morreu o meu amigo Raimundo!
   Sabes amigo, deixa-me tratar-te assim, ainda que esteja certo de que não mereço a honra de assim ser tratado! Um amigo não falha e eu contigo falhei! Tinha prometido a mim próprio que tudo faria para que nunca mais esta academia tivesse de fazer homenagens póstumas a gente que tanto fez por ela, tive tempo que chegasse desde que o “nosso Chico” partiu, e falhei! Não fui capaz de convencer quem ocupa os cargos actualmente de que estes novos académicos têm de vos ouvir ao vivo a dizer e a narrar as vossas experiências, a terem o privilégio que eu tive de convosco conviver. Sabes amigo, cheguei à conclusão, e por isso falhei, de que existem muitos a quem a postura de humildade, que tu e mais alguns têm, incomoda. O Contraste é gritante e os caloiros são novos mas pensam!
    Sabes amigo, não sei se serei capaz de voltar aos nossos jantares, não sei se a dor de não estares lá é superável! Já nos custou tanto a falta do “Chico”! E quando alguém me pedir para ouvir falar de academismo, ainda que os outros vão, vais faltar sempre tu! Nunca conheci ninguém como tu! Nunca conheci ninguém que soubesse tanto e tão profundamente de vida académica como tu! Não, amigo, não estou a exagerar, como na tua simples humildade deves estar a pensar!
    Sabes, a tua humildade sempre me marcou! Para quem como eu, tem vivido nos últimos anos esta academia, tem sido de uma tristeza ouvir alguns “pseudo académicos” gabarem-se de coisas que nunca fizeram e a ti, que tantas coisas fizeste, nunca te ouvi gabar. Quando se pensou em fazer um congresso, foi um prazer ouvir-te em 15 minutos a traçar as linhas programáticas e temáticas do mesmo. Fica aqui escrito, porque em primeiro lugar nunca te agradeci e depois porque faço questão que pelo menos disto, ninguém se possa abusivamente gabar. Quando procuramos uma fotografia do Soromenho para o Congresso, lá estavas tu, trajado com a tua inconfundível bengala, que no teu tempo era pertença de um veterano e agora é símbolo de algo que não entendias como havia tantos. E já agora queria dizer-te que para mim o teu maior feito académico, foi teres criado uma saudação académica para engenharia e ela hoje ser usada por quase toda uma academia!
 “Avé Raimundus, Praxisturi te Salutam”!
    Sabes que partiste sem nunca te ouvir dizer “Fui eu que inventei”! É a diferença! É aquilo que Deus quis levar mais depressa do que devia!
    Sabes amigo, a memória das pessoas é curta! Agora daqui a algum tempo vais ser homenageado por um Magnum qualquer que exista há altura, mas agora que partiste, só o teu Conselho de Veteranos decretou luto académico, esqueceram-se os outros da perda que tu és, e de que há muito tinhas deixado de ser só de Engenharia. Não sou de engenharia como todos sabem, mas eu também estou de luto académico e penso que toda esta academia deveria estar. Estou de luto, porque comungo da dor e da saudade que a Marta, o Juliano e o Afonso sentem, bem como tantos amigos, Mas também estou de luto, porque um dos maiores académicos que conheci, acabou de partir.
    Que o Magnum Consillium Veteranorum, assim se dizia no tempo do Raimundo, se lembre daquilo que até hoje se esqueceu, “O Veterano Raimundo é desta Academia”, e como tal as honras que merece são de toda a Academia, e não apenas de Engenharia.
    E vós, caloiros desta academia sempre que fizerem a saudação académica, lembrem-se que foi um grande académico chamado Fernando Raimundo que o inventou.
    A ti, meu amigo, quero que saibas que agora não sinto vontade de continuar a pugnar para que os nossos amigos que ainda estão cá comigo sejam homenageados, é que uma academia que te deixa partir e não te homenageia devidamente, não pode ser a minha academia.
    Talvez seja a hora das trevas! A hora de haver alguns que pensam ser importantes, sem terem importância nenhuma! Talvez o luto desta academia não se possa ficar a dever à tua partida, mas sim às verdades e conhecimento despretensioso que contigo levaste!
    Talvez um dia, quando a tua capa académica voltar a voar por esta academia, o tempo da Luz volte!
    Assim quero pelo menos continuar a acreditar!

                    Ad Eternum Raimundo, Ad Eternum Amigo!
                    Paz à tua Alma, descansa em Paz

Fernando Borges
(Faculdade de Letras Universidade Porto)

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