sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Homenagem a duas académicas de 9 e 7 anos

15-06-2003 15:39

Homenagem a duas académicas de 9 e 7 anos

Desde que as minhas filhas nasceram sempre as levei comigo para tudo o que eram actividades de Tradição Académica. Adormecia-as a cantar músicas de tunas e fados académicos e quiçá pelo amor que me têm, adormeciam ao som das melodias e das letras tão lindas que a minha voz se tornava incapaz de as retirar desse enlevo apesar do mal cantar. Assim, as minhas filhas foram crescendo habituadas a ouvir e ver uma serenata; a ouvir e ver um festival de tunas; a ouvir e ver algumas tertúlias; a conviver com pessoas trajadas de negro, e a ver nelas os amigos de todas as ocasiões. Nunca viram exercer praxe no sentido mais forte da palavra. Já viram muitas vezes “gozo ao caloiro”, já participaram comigo em “milhentas” actividades académicas, possuem uma vivência académica que os seus 9 e 7 anos de vida quase lhes permitia serem veteranas desta academia, e nunca viram praxe académica a ser exercida, já viram foi tradição, imensas vezes. A tradição do respeito, que o pai delas ao longo destes anos foi conseguindo granjear por uma academia que tem vindo a crescer em quantidade, tem sido para elas motivo de orgulho. O carinho que têm recebido por parte de tantos e tantos académicos que ao longo dos anos as têm conhecido, sejam caloiros ou veteranos, tem sido a paga daquelas noites e dias em que queriam estar com o pai e ele ia para as coisas da Tradição Académica. Sempre ensinei às minhas filhas que isto da Tradição Académica era um modo de viver e sentir a vida muito especial e diferente, e que o pai delas com a sua experiência de vida e com a sua experiência académica tinha obrigação de transmitir o legado que outros que o antecederam lhe deixaram, que era meu dever mostrar aos mais novos como era possível ter uma vida académica apaixonada e feliz.

Agora ando com um problema para resolver com elas. É que algumas pessoas, que embora de gerações mais novas do que eu, a quem eu sempre ensinei as minhas filhas a vê-los como bons académicos, andam por aí a dizer que são praxistas. Embora pareça um problema pequeno, é grande do ponto de vista de coerência e pedagogia. Agora, quando saio para alguma actividade académica, como todos eles falam em Praxe, as minhas filhas pensam que não me podem acompanhar e perguntam-me sempre quem é que eu vou castigar. Talvez seja a linguagem deste tempo a que está certa, não sei, embora acredite que não, mas o meu problema mantém-se. Sempre que a comunicação social fala em Praxe, lá vem asneira e lá tenho eu as perguntas das minhas veteranas,     “ Papá é nisto que tu andas?”. Lá tento explicar que não, que as pessoas como o papá têm o dever de ver o que se passa para estas coisas não acontecerem, que aquilo são disparates de quem não sabe Tradição, nem o que é Praxe Académica, mas sei que no fundo não lhes tiro todas as dúvidas, e isso deixa-me irritado.

Há verdades que não lhes consigo escamotear!

Elas já não vêem tunas em ronda pela cidade a tocar serenatas às donzelas, e como dizia o meu padrinho de praxe, “e às também não”. Elas vêem muitas tunas, mas poucas de qualidade, não artística mas tunante.  Elas vêem grupos de fados, mas só uma ínfima parte com qualidade. Elas vão comigo a Faculdades e Universidades e não vêem as tunas a tocar nos bares. Elas vêem muita gente de capa e batina, mas vêem muito pouca gente trajada. Vêem muita gente de capa e batina mas não vêem aquele espírito de irmandade que viam antigamente. Vêem gente com cargos mas não vêem cargos com gente. Vêem muita gente a servir-se e muito pouca a servir. Vêem gente vestida com as cores das Faculdades e alguns de capa e batina a acompanhar, a gritarem obscenidades pela cidade em duas alturas certas do ano, em meados de Outubro e inícios de Maio, e nunca mais vêem nada.
Temo sinceramente que dentro em breve me perguntem se a Tradição que eu tanto gosto se limita a este “gozo ao caloiro”, ou se foi este que se sobrepôs e matou a minha Tradição Académica. Temo porque não sei responder e às filhas não se mente.

Por tudo isto, resolvi escrever a pedir ajuda!

Ajuda aos académicos desta Academia para que se identifiquem como académicos e não como praxistas!

Ajuda às tunas para que saiam em ronda pela cidade, e para que deixem de lado os preciosismos das actuações para o prémio e passem a ser tunos como eram dantes e “a tocar por tocar, e para encantar”.

Aos grupos de fados para que apurem a sua qualidade e toquem e divulguem esta parte da tradição. Se todos os que tocam guitarra o tocarem com a paixão do meu amigo Miguel, do grupo de fados de Engenharia, todos os que vos ouvirem apaixonam-se pelo fado académico.

A tanta e tanta gente que anda de capa e batina, para que traje! Nunca esquecendo como já alguém disse um dia, aquela célebre frase: “ O Trajo não se veste, sente-se”.

Aos que usam capa e batina para que vivam as tradições académicas como uma autêntica irmandade, de modo a que o espírito de amizade, carinho, paixão, solidariedade e irreverência que sempre marcou os académicos seja sempre perpetuado.
Que sintam e usem como lema “o nosso academismo prova-se e comprova-se a cada dia que passa”. Para que sejam humildes e estudem a história desta academia de modo a que esta não seja esquecida nem desrespeitada. Que usem os cargos e não se usem deles. Andem com as cores que quiserem mas acima de tudo usem aquela que é a cor da nossa união. Façam tertúlias pela cidade, mas chamem os anciãos desta academia para testemunharem e transmitirem conhecimentos que já só eles possuem, e convidem-me para assistir, é que a sede de ouvir falar quem sabe é tanta que quase estou a morrer de sede.
Honrem a memória de tantos que por esta academia viveram e que, agora que não estão cá presentes fisicamente, por ela devem estar a rezar. Aqui não podia deixar de focar três pessoas que marcaram esta Academia, como exemplo de tantos e tantos que já partiram, O Augusto Soromenho, O Chico Moura e o Raimundo, honra lhes seja feita!
Como usa dizer o nosso Dux Veteranorum “ausentes mas sempre presentes”.

Se este meu pedido for atendido por todos ou pelo menos pela maioria, então estou certo que as minhas veteranas domésticas ainda terão academia daqui a 8 e 10 anos, e sentirão orgulho pela ínfima participação que o papá delas teve para que isso acontecesse.

É esta a homenagem que eu queria prestar ás “veteranas” Catarina e Mariana que quando sentirem o seu trajo ainda seja possível fazê-lo com o sentido que o papá delas fez.

Traditionnes Ad Eternum

Fernandus Bandalhus Secundus

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